Wednesday, December 31, 2008

Volta à Viena

As nuvens cinzentas anunciavam seu retorno. Como ela queria o sol tropical! Mas em Viena, nessa época, isso era impossível. A neve a esperava. Mas o verão no Brasil lhe fora inesquecível.
Qual o nome do rapaz? Não lembrava. Só sua pele queimada de sol, cultivada após anos de praia de areias brancas e mar de águas esverdeadas. Surfistas curtiam as ondas e vendedores ambulantes lhe ofereciam penduricalhos que nem ao menos ela sabia pra que serviam. Apenas observava como uma figura atípica num território longínquo e esquecido. Pelo menos aos moradores de sua terra natal, atarefados demais para sonhar com a terra paradisíaca que visitara.
Suas lembranças se confundiam com a rotina gelada que, como um fardo pesado, lhe incomodaria nos próximos dias. Aos poucos ela esqueceria o sol, as praias e as nuvens brancas e passivas.
Talvez muitos de seus conterrâneos tivessem ido ao Brasil e vivido o que viveu, mas o frio que lhes esperavam no retorno os fizessem esquecer. Assim como ela, que chegando em casa mal lembrava onde havia estado e pensava apenas em acender a lareira e dormir.

Talvez o verão não fosse tão inesquecível. Ou talvez Viena não permitisse que nada fosse assim.

Monday, December 22, 2008

fuga

Ela acordou num sobressalto. Olhou para o lado e o oleoso suado do seu marido roncava e grunia sons incompreensíveis mas que ela já discernia muito bem. Voltou a deitar empurrando o conjugado para o lado a fim de tomar de volta sua parte do lençol.
Ruídos no andar de baixo despertam-na novamente. Desta vez levanta-se: poderá ser um ladrão? A possibilidade a assusta. Nunca foi medrosa mas agora ,casada, deve zelar pela sua casa e seu marido imprestável. Deve mesmo zelar? odeia morar ali, seu casamento é uma farsa que nem ao menos lhe traz recompensa. Mas ela nunca teve medo e zelaria por si mesma por não ser boba. Iria descer sim, e pronta pra atacar o intruso de surpresa.
O piso do assoalho estava frio e a chuva lá fora não estava muito agradável. Preferia continuar na cama, macia e aconchegante, ideal para uma noite chuvosa como aquela. Porém a curiosidade não a deixaria nem mais dormir.
Algo esbarrou na mesinha de madeira no corredor. Um frio subiu-lhe pela espinha. tinha receio do que podia lhe acontecer, mas arriscaria mesmo assim. Melhor ser um fator surpresa, pensou ela.


O pequeno animal de pelos eriçados a fitava desconfiado. Suas orelhas em pé compreendiam errada sintonia com o ambiente silencioso. não conseguia parar de olha-la. Era recíproco. O pequeno gato correu em sua direção e pulou a enorme janela de vidro que estava atras dela. E correu pela grama até alcançar o muro, de onde pulou e sumiu.
O susto passou mas seguiu-se de desejo. De uma vontade incontrolável de segui-lo, de fugir e sumir. Não queria mais a casa, nem o marido. Queria frio, queria insegurança e mudança. Queria aventura. Queria ser gato. De pelos eriçados e olhos atentos, furtivo e indomável. Essa era ela, e não o pequeno pássaro enjaulado numa instituição que não lhe merecia nem desejava.
Ela Caminhou até a janela. E pulou. Num instante tornou-se gato. E Era tudo o que poderia querer e arriscar.

Friday, December 19, 2008

han(s)??!

A menina que vendia fósforos cresceu e hoje usa isqueiro.

viajar

As imagens coloridas da televisão não me intimidam. não desvio o olhar nem incomodo-me com flashes. Meus olhos prosseguem abertos e minha mente bóia num fluido pegajoso e imaginativo.
A atenção que não dedico às pessoas que passam e às pequenas coisas ao meu redor não pode ser traduzida em egoísmo.
Tudo isso é só um leve e curto transe. E vai passar.
Daqui a pouco.