Thursday, February 28, 2008

Destroços na Estrada

Ela não lembrava de nada. Era pesado demais para lembrar. Era sufocante. A chuva espessa que lhe encharcava era o mínimo de suas preocupações.
Tudo aconteceu como um raio, que destroça um pinheiro em pedaços e só lhe deixa os restos. A tarde estava nublada e a discussão contínua no banco da frente do carro lhe fazia pensar como a noite seria insuportável. Não podia imaginar o que levara David a fazer algo tão impensado! Nenhuma das explicações dele parecia real. Queria lhe arrancar a verdade, mas não adiantaria muito. O fato já tinha acontecido, e estava a quilômetros deles. A briga continuava inflexivel até o ocorrido. David não viu o caminhão. David estava distraído demais para vê-lo. David estava aborrecido e assim ficou. Até os segundos terminarem.
E agora ela estava lá, sentada no meio-fio, tentando lembrar do ocorrido. Tentando pensar no que fazer. A próxima cidade era à quilômetros! E David ensanguentado a fitava. Morto. Mal conseguia olhar para os olhos dele, estavam vidrados, quietos, fitando algo além do que ela poderia enxergar. Não sabia o que fazer, mas olhava para ele, que esperava alguma atitude de sua parte.
A luz do caminhão vinha do horizonte, "estrada longa..." pensou ela. Se preocupar com o comprimento do caminho não devia lhe importar no momento, mas as inutilidades dos detalhes lhe eram mais visíveis naquele instante. O Caminhão parou.
_Tá indo pra algum lugar moça? Por Deus! O que houve aqui?
_Um acidente. O motorista deve ter dormido no volante... - retruca ela.
_Vamos embora daqui. Para qualquer lugar.- diz, subindo no veículo.

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Pequena história (com continuação). Pretendo postar mais sempre que possivel.

Tuesday, February 26, 2008

Velho Gato

O silencio era fatal. Era impregnante. Era uma velha espaçosa e oleosa, que se arrastava pelas paredes e que me roubava o sofá.
Me deu um nó na garganta todo aquele silêncio. A ansiedade de ver um vulto passando pela porta me fez quase acreditar que tudo aquilo não tinha existido. Mas existiu. E o silêncio sufocante, e o cheiro do vazio que me deprime me comprovam o acontecido.
A maciez de seu pêlo, o olhar intenso e despido, seu corpo esguio se esguirando pela porta...parece que foi ontem que o peguei no colo pela primeira vez! Que o beijei e o agraciei com histórias bastianas. Um gato em corpo de gato. Seria um insulto dizer que seria homem pelas atitudes! Divinas felinas atitudes! Divinas cantorias ao pé da escada.
Ele não se foi. O velho vulto pela porta, o cheiro de mistério, os pêlos que voam formando pequenos redemoinhos no ar, os miados... Não. Eles estão aqui. E o silêncio sempre se apagará com um miado. A velha oleosa correrá espantada. E reinante ele ocupará o sofá. Como sempre o fez.
Que Bast proteja sempre nosso filho, e que velho gato continue a correr pelos campos, sempre alerta, caçando o que já tem: a imortalidade das 9 vidas.

Monday, February 18, 2008

Apollo and Daphne

Como são egoistas os amantes!
que entre juras de amor á pele nua
nos acorrentam pelo pescoço, ventre e alma.

Como são ardilosos os amantes!
que espreitam pela presa
por entre fendas umidas
quando chega a noite.

Como são opressores os amantes!
Que nos prendem ás tuas camas
e nos usam, e nos tocam
fazendo da lua, nossa confidente.

Como são cruéis os amantes!
Que nos fazem sofrer a cada suspiro não ouvido,
á cada toque não sentido
ou simplesmente por não estar lá.

Como são preciosos os amantes!
Pois tal como mal necessario
nos cresce a alma,
nos amadurece e acima de tudo,
nos mostra o que é o amor.

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Texto muito antigo só pra constar.

Friday, February 15, 2008

O Sábio, o Louco, o Sol e o Grande

Há um tempo atrás um homem me contou a história de Diógenes, o sábio louco. A história era mais ou menos assim:

Certa vez Alexandre o Grande estava arquitetando uma de suas futuras conquistas quando decidiu pedir o conselho a algum sábio. Logo lhe veio a mente Diógenes, o sabio louco que morava em um buraco e que delirava pela cidade.
Então o grande conquistador decidiu visita-lo. Mas ao chegar lá, montado em seu enorme cavalo, recebeu de Diogenes apenas duras palavras: " Não me roubes a única coisa que nunca poderá me dar!"
O grande Alexandre em seu esplendido cavalo, à beira do buraco, estava lhe tapando o sol.

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Sunday, February 10, 2008

Nascimento

No começo era preto, era escuro. Era tudo e nada numa imensidão pequena de paredes infinitas. É apalpável, mas não podia se tocar. E a coisa respirava e se mexia. Mas não estava viva. Não agora.
De repente, houve a explosão, a mudança, o começo. E das paredes rasgadas se escapava a luz e a vida. Da dor surge o amor, e do sangue brota a coisa. Que chora. Que grita. Que irá amar e sorrir. Que não se lembrará de tal fato mas que passará por tal momento como um espectador de um filme mudo.

Paula oliveira