Thursday, October 16, 2008

Running


A névoa ainda tocava o chão quando ela saiu de casa.
Na noite passada havia chovido, mas isso não era obstáculo para ela. Adorava correr. O prazer que sentia quando a bruma leve lhe molhava o rosto e o orvalho lhe encharcava a roupa não poderia jamais ser comparado a outra coisa.
Além do mais, precisava correr. Precisava manter a mente longe de casa, perdida entre estradas vazias e sol ameno. Detestava pensar no dia após a rotina matinal. Tantas preocupações e problemas. Nunca se sentia leve: a vaidade, o orgulho, a sensatez lhe pesavam os ombros. Mas agora não. A estrada não precisava de nada disso. Não lhe exigia isso.
Ela não usava batom, nem penteava os cabelos do mesmo jeito "um pouco para o lado" de sempre ou usava sapatos carmim envernizados. Nada lhe importava.
Só manter a respiração lhe bastava. E o sorriso.





ps.: desesperada necessidade de fazer algum exercício. E desculpa para ficar um pouco sozinha.
ps.2: Inspirado num trecho do filme "Do que as mulheres gostam".

Monday, October 13, 2008

Poema da dúvida.

eu me arranco pedaços.
a leveza satisfaz (?)
incompleta alma que paira no nada;
impalpavel, interno, incolor.

Prefiro desesperar-me,
prefiro descabelar-me,
prefiro despedaçar-me,
à apenas respirar.

se o amor ( palavra de ouro dos dicionários incognitos)
fosse mais fácil...
engano-me:
dicionários objetivam significados.

a criança pergunta inocente:
"o que comes?"
Ele responde: "amor".
E morre em dias póstumos.
Não será o bastante?

Vivo no labririnto de pequenas "eus".
O amor está lá, engolido em corpos brancos e nus,
perdidos, rodando numa aspiral infinda.
inda...inda....inda...linda.

Amor? ainda está aí?
Ou serão ecos mistificando tua ausência?