Wednesday, January 18, 2012

A folga do João Pestana

Ninguém imaginava o que aconteceria naquela noite quente de janeiro. Talvez se imaginassem, algumas pessoas certamente teriam evitado trabalhar tanto, outras nem sairiam de casa. Acredito que se todo mundo soubesse o que iria acontecer decretariam feriado: não haveriam  lojas abertas o dia todo (inclusive as barraquinhas chinesas), ou escritórios funcionando e até fabricas, acredito eu, dariam um dia de descanso aos seus supostamente incansáveis operários-robôs. Todos os cidadãos trabalhadores e até aqueles que não trabalham tanto assim, dormiriam o dia todo, se preparando para uma noite de insônia coletiva.
Mas tudo aconteceu sem aviso e sem nenhum preparo. Ele simplesmente decretou folga. Sem mais nem menos fechou sua maleta púrpura e foi viajar. Não deixou recado. Não deu nem uma dica. João Pestana não compareceu ao trabalho hoje e deixou a todos uma noite longa demais para ser apreciada.

Friday, December 31, 2010

O retorno da Linda king

Linda king ressurge como faísca dançando de um pneu cantado, na curva da escuridão.
Ela brilha como luz de semaforo piscante, como tevê ligada em noite de natal.

E se esvai por entre pernas entrelaçadas, deixando aquele gosto matinal de noite perdida, de gozo cumprido e perda, inexplicável perda.


Que saudade da faísca infame.
Que benção a volta inflamada.
Que os amantes saibam dividir e aceitar
A eterna segunda chama.

Divagações da Incompreensão Humana

Uma vez me disseram que o amor nunca seria entendido. Eu concordo, mas também né? eu nunca sou entendida, os jovens, os idosos, os sábios e os tolos são todos incompreendidos e as pessoas, por mais que se unam para uma mesma causa, por um mesmo ideal, também tem perspectivas diferentes para o mesmo assunto que possuem em comum.

De vez em quando penso que o ser humano nasceu pra ficar sozinho. Podem compartilhar a ideia do monogamico, da familia e das tantas instituições, falidas ou não, do matrimônio católico, do junta-trapismo, da união estável... mas no fim, a natureza mostra para nós o que o instinto pede: a solidão!

Porque que quando estamos tristes e confusos queremos ficar sozinhos? Porque a informação compartilhada nos fragiliza, a opinião alheia nos incomoda, e quanto mais queremos ter paciencia com os outros (e suas opiniões) mais somos impacientes com nós mesmos!

Eu estou, neste minuto, impaciente comigo mesma, por não estar conseguindo transmitir exatamente o que está na minha mente, mas.... ESPERA AI! eu nunca conseguirei isso... Somos todos incompreendidos lembra?

Tuesday, June 29, 2010

Baianagem

Ai que saudade da minha terra!
do xote, do chiclete e da rainha do agreste.
Ai que saudade do sol...
E de Deus e do Diabo.
Retado.

Ai que saudade da baiana e do arrastado do pé.
Chega de Ulissismos, de severinos tantos mil.
A verdade é dita entre as saias suadas, no ventre desnudo.
Delicado gingado. Entre bares.

A verdade é que só se sente o gosto quem já vem com ele.
Aquele gosto amargo,
Perfumado e imoral
Do dendê.

Thursday, May 13, 2010

O jiló

As vitrines observando-a passar na avenida paulista nem sequer imaginam a aflição em teus olhos d'agua.

Ai, o amor... Instrumento de profunda discórdia e prazer. Prazer que se enrosca em peles e termina com o último arfar do coração ferido.
Ai, que gosto amargo é amar! Tal qual um pequeno, verde e duro... Jiló!
Lembro-me da velha senhora na varanda de seu casebre lá no roçado chupando jiló... Chupando jiló e amando o seu homem loucamente. Amando seu homem loucamente á cinquenta anos!
E vejo-me quão longe estou da avenida paulista, meu deus! - penso enquanto caminho por ela observando as vitrines.



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para Daniel.
queria ser a velha senhora.

Sunday, April 18, 2010

O circo

O circo saiu da cidade,
e com ele os balões coloridos.
Mais uma vez, pergunta meu coração,
para onde estarei me levando?

O circo saiu da cidade,
foi-se o palhaço, o sapo, o moço.
Irriquieta nem me movo.
Para onde estarão me levando?

O circo saiu da cidade.
Chega de guloseimas!
É a hora das mães puxando orelhas
de filhos malcriados.

Sempre fica um restinho de lona marcada na praça da cidade.

Saturday, November 14, 2009

voltei

A volta da penumbra.
Não mais arco-íris e texturas praianas.
Agora é a vez do aço, do frio; cortante.
espero que passe logo, como chuva de um verão
não tão feliz quanto devia.

Sunday, March 22, 2009

A tal da voz.

Sabe aquela vozinha que nos dá ao pé do ouvido e que por vezes acreditamos que é imaginação, delírio alcólico ou uma simples mosquinha?
Ouça-a.
É a razão que, normalmente, é prática e certa.
Nós somos complicados, errados, delirantes e surdos! Internamente surdos! pois nunca escutamos ao nosso mais centrado eu.

Afinal, é delicioso estar errado... Só é amargo no final.