Balonista sonhadora.

Sou um balão colorido com fitas de cetim,
Que se enche a cada sonho novo, me distanciando mais e mais do chão.
Para onde eu estarei me levando?

Boa viagem, meu pai.

Olhava os mapas velhos com números pequenos e gastos, com rasgos remendados e uma mancha, possívelmente de café, no canto esquerdo. Minha cabeça voava por entre os cumes extensos e o cheiro de mato impregnava a mente, mas os olhos se concentravam nos lábios do futuro viajante tentando decifrar o que me diziam.

Por um momento senti saudade do velho pai, de suas aventuras, seu chapéu surrado, do jipe preto e das azeitonas com pimentão que comíamos antes de pegar a estrada.
O velho homem, antes cansado e derrotado revigorava-se a cada coordenada descrita, cada história que contava e contaria em sua volta. E eu sonhava com essa volta.

Na saída dei-lhe um abraço apertado, desejando-lhe não que fizesse boa viagem, mas que fizesse uma viagem necessária para que o garoto que existe nele conseguisse se libertar do velho corpo, percorrendo imensas trilhas e repousando na Cadeira de deus.



PS.: a Cadeira de deus é um lugar na chapada. Desconhecido, diga-se de passagem.

Por que o céu é azul?

"Sabemos que a luz é formada pela união de várias cores. Ao entrar em contato com a atmosfera, ela espalha-se devido às partículas existentes no ar. Porém as ondas de cada cor espalham-se de forma diferente, dependendo do seu comprimento. Qunato mais curtas, mais dipersas elas se tornam. O comprimento da onda azul faz com que ela se espalhe o suficiente para dar ao céu a tonalidade que vemos. Já no final da tarde, o sol ilumina obliquamente, obrigando os raios a fazer um caminho mais longo para chegar ao solo. Tal fato dispersa quase totalmente a luz azul e torna visível a vermelha, que possui um comprimento maior, dando-nos o espetáculo do pôr-do-sol." - falou ele, todo metódico. Todo arrumadinho.

Mal sabia ele que na verdade para a jovem sonhadora o céu era daquela cor porque ele querendo ser mar bordou um longo manto azul pintado de nuvens e auroras, os corais do céu. Mas todo fim de tarde o sol lhe lembrava do que ele é e de tristeza ele se escondia no negro, banhado apenas de lágrimas, suas estrelas.

-"Entendeu?"
-"tudinho."

E as palavras entravam e saiam das orelhas sem mover pedra alguma.

Amor de janela

E ela debruça-se na janela, pensando que teus olhos com bocas enormes poderiam lhe gritar o nome do bem apessoado rapaz que há metros passava, caminhando e ajeitando o chapéu demasiado grande em tua cabeça.

Mas teus olhos com bocas apenas suspiravam baunilhas do verão que outrora fora apaixonante.